Contextualização do debate sobre a Filosofia africana - FILOSOFIA AFRICANA

 

FILOSOFIA AFRICANA

 

Contextualização do debate sobre a Filosofia africana

Questões históricas

Na época da colonização europeia ao povo africano várias foram as filosofias por eles concebidas para denegrir a personalidade dos negros provando a sua superioridade dos povos do ocidente sem que estes tivessem respostas imediatas escritas para contrapor as teses dos ocidentais.

A teologia, a filosofia e o Direito foram importantes neste processo. A teologia definiu o povo negro como símbolo da maldição e que pertencia à geração dos condenados por Deus. Na Filosofia, Voltaire afirma que o povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o africano. Rousseau diz que os africanos são bons selvagens; para Hegel os africanos são povos sem história e necessariamente desprovidos de humanidade; Kant chega a conclusão de que os africanos são povos sem interesse; Levy Brhul proclama que os africanos têm mentalidade pré-lógica; e Montesquieu afirma que os africanos são povos sem leis; os antropólogo Morgan e Tylor sustentam que a África é uma sociedade morta.

 

A existência ou não da Filosofia africana

Esta discussão surgiu pelo fato de alguns estudiosos não africanos como africanos terem estudado etnias africanas, denominando-os de “Filosofia africana”. Este estudiosos foram Anyanw, Placide Temples, Alexis kagame, John Mbiti entre outros. E os críticos que negam a existência da Filosofia africana colocam se é possível falar dela da mesma forma que a Física, Química africana. A resposta é não, eles negam a ideia de existência de uma Filosofia africana, que são: Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M. Towa, Oruka, K. Wiredu entre outros. O problema principal é o objecto de estudo do que a designação em si e abrem a possibilidade da filosofia africana, apresentando em moldes que tal filosofia deverá ser concebida para que possa ser designada Filosofia africana.

 

Principais correntes da Filosofia africana

 

A Etno-filosofia

Através de informações mais ou menos fiáveis relativas às tradições, mitos, rituais, sistemas de crença e linguagens africanas, alguns intelectuais procuram investigar a concepção do mundo de uma tribo e num grupo étnico particular. Dentre eles destacamos Placide Templs (missionário belga), autor da obra Bantu Philosophy na qual procura compreender a filosofia africana Bantu a partir de estudos das práticas culturais, sistemas de crenças, etc., de uma etnia particular.

Outro etnólogo, mas particularmente linguista é Alexis Kegame (ruandês) que na sua obra Philosophy Bantu Compareé sustenta que uma análise cuidadosa e bem informada do vocabulário e da gramática de uma determinada língua pode levar a uma compreensão do marco conceptual e do modo do pensamento lógico de um povo.

Uma das questões que ocupa os pensadores africanos hoje é sobre o estatuto da oralidade tradicional africana: podem considerar-se filosóficos os provérbios, os contos tradicionais?

Uma outra questão é relativa ao papel dos filósofos formados profissionalmente perante estes dizeres e provérbios tradicionais, isto é, qual é o papel destes filósofos?

Nos nossos tempos há duas correntes que procuram responder a estas questões: a primeira defende que a filosofia africana é um pensamento especulativo que se encontra nos provérbios, nos contos tradicionais, nos costumes, etc., e que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Portanto, o papel do filósofo africano, pelo menos em relação à filosofia africana, é de colecionar, interpretar e difundir os provérbios, contos, mitos, etc. O representante desta corrente chama-se John Mbiti (keniano), autor do livro African Religions and Philosophy.

A segunda corrente é aquela que procura revogar o pensamento segundo o qual, em África, embora exista filosofia, não há filósofos que pensam individualmente e que, a filosofia africana tradicional é integralmente colectiva. Esta corrente sustenta que a filosofia africana é o resultado da reflexão e do pensamento abstracto de pensadores africanos individuais, tanto tradicionais como modernos. Esta corrente acentua a importância do debate crítico sobre os problemas existenciais. O seu representante chama-se Paulin Hountondji (camaronês) que destaca a importância que a escrita tem na criação de uma tradição filosófica moderna; a escrita, segundo ele, é uma força impulsionadora da tradição cultural, por isso é que, na sua obra African Philosophy, Myth and Reality aborda a importância das obras filosóficas produzidas por filósofos africanos.

Desta mesma corrente é o pensador Kwasi Wiredu (keniano), segundo o qual, o facto de que em África haja pessoas capazes de reflexão crítica sobre os problemas fundamentais da experiência humana e da existência em geral, mostra que o pensamento africano tradicional contém elementos que são filosóficos, no sentido em que tenta dar respostas a algumas das interrogações fundamentais relacionadas com o homem e o mundo. Portanto, para ele, existe uma inquestionável filosofia africana tradicional e moderna.

 

O cheik Anta Diop depois das suas investigações a respeito da cultura africana, argumenta que a civilização universal foi essencialmente uma civilização africana negra. Diop não só descobre muitas semelhanças entre o Antigo Egipto e as outras culturas africanas, como também encontra, inclusive, pontos comuns entre as línguas faraónicas antigas e as línguas africanas modernas. Ele sustenta ainda que as civilizações européias (grega e romana) derivam do Antigo Egípto.

Segundo Anyanwu, o método da filosofia africana consiste na análise da experiência africana, cultura e princípios sobre os quais se rege. Alexis Kagamé é o pai da etno-filosofia africana como sustenta Hountondji[1]

 



[1] Cfr. Ngoenha, Severino, Das independências às liberdades – Filosofia Africana, 1ª ed., edições paulistas, pág. 87

Palme Pedro

Bem-vindo(a) ao blog do Professor Palme Pedro, um profissional com mais de 10 anos de experiência no ensino secundário e apaixonado por Filosofia.

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