A Negritude enquanto filosofia política

 

A Negritude enquanto filosofia política

Na perspectiva política, a Negritude é tomada como reação à rigorosa tentativa de assimilação do poder da colonização francesa. Em sua análise, Jean P. Sartre diz que em si mesma, a negritude não é um objectivo final, mas um meio para a afirmação da humanidade negra. Edward Blyden reagindo à leitura que Sartre faz da Negritude, diz que para cada um dos seres humanos existe um dever a cumprir, um trabalho necessário e importante para a raça a qual pertence. A personalidade africana e a raça negra pressupõem a existência de uma responsabilidade. O dever de cada um de nós é de lutar pela própria individualidade para mantê-la e desenvolvê-la.

 

A Negritude surge no meio negro americano sob diversas formas e variados nomes:

- Regresso à África de Marcus Garvey (Back to movement);

- Desenvolvimento segregado de Booker Washington (Black line Developement);

- Renascimento Negro de Willian Du Bois (Black Renaissence).

 

A partir dos anos trinta os escritores africanos começam a escrever contra a assimilação de que o mundo negro era vítima. Etienne Lero orienta um grupo de estudantes que edita a revista Légitime Défense; Aimé Cesaire escreve Cahier d’un Retour au Pays Natal, que é considerado o hino da Negritude.

De acordo com os seus objetivos e a sua evolução na história, a negritude significou:

- Sofrimento e revolta – enquanto preconiza o desafio do processo de resistência, bem como a questão da identidade. Assim, procura restituir à África o orgulho do seu passado, procura afirmar o valor das suas culturas, procura rejeitar a assimilação que sufoca a sua personalidade.

- Política e independência nacional – enquanto as suas manifestações artístico-culturais representam um acto político na luta pela conquista da independência dos povos negros sob a dominação colonial e neo-colonial.

- Cultura e humanismo – enquanto preconiza o repúdio ao ódio e busca de soluções através do diálogo com as outras culturas, o negro não pode ter a intenção de isolar-se do resto do mundo.

- Revolução socialista – enquanto privilegia a via socialista como o regime político viável para as novas nações independentes da África, facto que se revelou um autêntico fracasso devido à sua transposição do Ocidente para África.

- Motor de desenvolvimento humanitário – a negritude é um convite à mudança gradual e consciente das atitudes do africano de modo a imprimir uma nova dinâmica de pensamento. É preciso reconhecer que o problema reside, em parte, em nós próprios, os africanos, pelo que nada vale a política acusatória do colonialismo.

Impõe-se à negritude o dever de buscar na reflexão objetiva o discurso filosófico político capaz de apresentar um novo desafio em busca da africanidade, onde a exaltação da condição de ser negro actue como uma possibilidade de o negro encontrar-se consigo mesmo, de se valorizar e de se impor para ser valorizado por outras comunidades.

A negritude nunca deve ser entendida como uma arma de luta contra o branco ou contra o Ocidente, mas sim, deve ser concebida como um contributo na mudança de atitudes, devendo propiciar a busca de soluções e não esperar que tudo venha de fora. A negritude deve encorajar o negro a não ter medo de ser negro, porque ser negro não é nenhum castigo.

Palme Pedro

Bem-vindo(a) ao blog do Professor Palme Pedro, um profissional com mais de 10 anos de experiência no ensino secundário e apaixonado por Filosofia.

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